A Carta Paralela
A chegada dos primeiros navegadores portugueses ao litoral da Bahia, como descrita na Carta do Descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, é uma longa história, literalmente. Já deu muito pano para manga, e nem se sabe direito o que foi efetivamente coberto ou descoberto (por esses panos retóricos ou linguÃsticos) e, afinal de contas, quem descobriu quem, e o que. É numa afirmação Mino Carta que Sérgio se inspira para sair a navegar por águas nunca dantes navegadas, as que conformam uma carta paralela à original de Caminha (o que, simbolicamente, “caminhou” em forma de palavras por sobre as águas entre dois continentes). “As histórias nunca contam as verdadeiras estórias”. Eis por que, de certo modo, sempre desconfiamos das verdades da própria história, e somos muito mais propensos a acreditar, e a apostar nossas fichas, nas verdades das “estórias”. Se a Carta de Caminha pretendeu ser História, a Carta de Schaefer faz questão de se dizer e se revelar “estória”, e assim estará livre para ver, ouvir, cheirar, apalpar, saborear, ouvir tudo o que os primeiros portugueses, contidos ou fechados em seus sentidos, não captaram. Quando a Carta de Schaefer faz que não vê ou não ouve, o leitor, sortudo, vê, ouve, sente. E descobre. Oh se descobre.
Romar Beling